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16 de Abril de 2024
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    Herança da Guerra do Contestado: uma terra embrenhada na carência e pobreza

    Especial 100 anos de Contestado - Parte Final

    Pesquisa e Texto: Gustavo Falluh

    Passado um século, a região do Contestado ainda apresenta diversos municípios com baixos índices educacionais no desenvolvimento humano municipal (IDHM). A vergonha de ser descendente de caboclos silencia. Mas a conexão com o fanatismo, ainda que seja reflexo do preconceito dos vencedores da guerra com o desconhecido, está em processo de desconstrução.

    O IDHM, baseado nos últimos três censos demográficos do IBGE e formulado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) e pela Fundação João Pinheiro (FJP), traz rankings estaduais para pesquisa no Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. Os números, de 2010, foram calculados com base na longevidade, educação e padrão econômico de vida.

    Em Santa Catarina, dos últimos dez municípios no ranking estadual, seis estiveram envolvidos na Guerra do Contestado. Cerro Negro, na região dos Campos de Lages, está na última posição, com 0,621 de IDHM e 0,455 em educação – índices considerados muito baixos. Calmon, na penúltima colocação, tem 0,622 de média geral e 0,5 em educação. Enquanto isso, Florianópolis destoa na primeira posição, com 0,847 de IDHM.

    O professor Paulo Pinheiro Machado, da Universidade Federal de Santa Catarina, afirma que o projeto de colonização e implementação da ferrovia afastou os nativos das regiões centrais das cidades. "Essa população vai ficar vivendo na periferia dos principais circuitos econômicos, porque as terras mais importantes foram tomadas por descendentes de imigrantes", articula o doutor.

    Além do afastamento e expulsão de terras, os sertanejos tiveram de enfrentar atraso em obter boas oportunidades. "Essa população brasileira é marginalizada nas principais oportunidades educacionais e de emprego. No financiamento agrícola, porque não tem terra formal; e na integração com as empresas da agroindústria. Então, ela fica para o serviço pesado: que é de derrubada no campo, preparação de novas colônias para outros lugares, abertura de estradas. Pau para trabalho mais pesado", analisa o professor.

    Ele entende que, desde a década de 1980, há uma tentativa de positivação do passado. "Ninguém tinha orgulho de dizer: 'Ah, meu pai esteve nos redutos.' Não diziam porque tinham uma vergonha brutal. Quem estava nos redutos? 'Bandido, criminoso ou fanático.' Então, tudo ruim. E essa memória vem sendo positivada, mas isso leva muito tempo até que as pessoas se identifiquem com o passado e vejam que seus familiares lutaram com as condições que tinham, e que não eram pessoas desqualificadas, malucos ou bandidos."

    Para ilustrar, o professor contou um caso dos tempos de apuração para elaborar sua tese de doutorado. "Quando eu fiz a pesquisa falando com o pessoal do interior, dizia ‘Guerra do Contestado' e ninguém me entendia. Hoje, todo mundo fala Guerra do Contestado. Naquela época, me retrucavam: 'Ah, Guerra dos Fanáticos!'".

    À frente da exposição, o servidor e historiador Adelson André Brüggemann, chefe da Divisão de Documentação e Memória do Judiciário, luta para que a guerra não caia no esquecimento e permita alterar o futuro, para que não repitamos os erros do passado. "Não é de admirar que, quando falamos sobre a Guerra do Contestado, nem todos os catarinenses saibam do que se trata. Você vai ao Rio Grande do Sul e lá nunca ouviram falar. E olha que são pessoas com bom conhecimento. Quer dizer, é só o maior conflito armado do país!".

    Clique aqui para ver apresentação do Especial Contestado, produzido pela Assessoria de Imprensa do TJSC.

    Se preferir, o Museu do Judiciário, no hall superior da Torre I do TJ, na rua Álvaro Mullen da Silveira, 208, está com exposição sobre a Guerra do Contestado de segunda a sexta-feira, das 12 às 19 horas, com entrada gratuita, até o dia 31 de março de 2017.

    Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445 (JP) Textos: Américo Wisbeck, Ângelo Medeiros, Daniela Pacheco Costa e Sandra de Araujo
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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/heranca-da-guerra-do-contestado-uma-terra-embrenhada-na-carencia-e-pobreza/433404974

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