Em exceção, teletrabalho possibilita estágio de estudante com necessidades especiais

Uma iniciativa do juiz Emanuel Schenkel do Amaral e Silva, da 2ª Vara da Fazenda Pública e Vara Regional de Execuções Fiscais do Foro Universitário de Blumenau, deu a uma universitária com necessidades especiais a oportunidade de realizar estágio através do teletrabalho. A exceção foi autorizada pela Presidência do Tribunal em razão da dificuldade da estudante em se locomover. O magistrado será responsável pelo acompanhamento da estagiária, mediante uma visita semanal à casa dela para orientação e verificação do trabalho executado.

Com 27 anos, Andreia Rodrigues França é portadora de má-formação congênita, razão pela qual ela não tem os membros superiores e apresenta problemas de desenvolvimento na perna esquerda. Na adolescência Andreia passou por uma cirurgia de escoliose, pois a má-formação provocava uma curvatura na coluna. A opção pelo Direito, segundo ela, ocorreu porque a área foi decisiva em sua vida desde muito cedo, tanto para conseguir vagas em creches, escolas e na faculdade quanto em questões de acessibilidade e transporte público.

Moradora de Gaspar, Andreia cursa o 5º ano do Curso de Direito na Furb e está em seu primeiro estágio. Sempre que pleiteava uma vaga, os encarregados diziam não ser possível admiti-la por questões de acessibilidade e, principalmente, pela falta de um cuidador que atendesse às suas necessidades durante o período do estágio. Assim, a oportunidade de estagiar para o Tribunal de Justiça em casa, por meio do teletrabalho, com a instalação de computadores e do sistema do Judiciário, foi o ponto determinante para a estudante poder atuar, pela primeira vez, na área do Direito.

Segundo Andreia, que tem como objetivo tornar-se juíza no futuro, a melhor forma de estudar que encontrou foi pelo computador, pois os livros são bastante caros. Alugá-los em biblioteca acaba, por vezes, inviável, pois ela não tem como carregá-los sem ajuda. Até mesmo folhear os livros é algo complicado, de modo que estudar e trabalhar pelo computador é a melhor solução – alguns computadores da atualidade contam inclusive com comando de voz.

Os técnicos de suporte de informática (TSIs) da comarca, com disponibilização de equipamentos pela Diretoria de Tecnologia da Informação, instalaram estação de trabalho numa mesa feita pelo marido de Andreia –ela utiliza o pé para movimentar o mouse e digitar. A estação é composta de CPU, dois monitores e demais acessórios, aparato similar ao utilizado pelos servidores da comarca sem necessidade de adaptação.

O TSI Sigfried Schaff, da equipe que instalou a estação de trabalho na casa da estudante, emocionou-se. "Uma lição de vida é o que tivemos ontem. No caminho, esperávamos encontrar uma pessoa totalmente dependente. Contudo, encontramos uma pessoa forte, motivada, feliz pelo fato de poder agora contribuir com a sociedade", falou. Andreia comentou com os técnicos que sofria muito bullying na escola por parte de outras crianças. No entanto, aceitava o fato porque elas não tinham a compreensão necessária para lidar com a situação.

"Além de ser um exemplo de vida, tenho orgulho de estagiar no TJSC e de cursar Direito", disse Andreia, que mora na casa da sogra. Ela deixou a casa dos pais porque lá não havia uma pessoa para atender às suas necessidades no período vespertino, uma vez que o pai e a mãe trabalham pela manhã e à tarde. Em sua rotina, as duas maiores dificuldades são as calçadas, tanto em Gaspar como em Blumenau, e as despesas com as baterias da cadeira de rodas e os pneus, que desgastam mais rapidamente que o normal.

Fotos: Divulgação/Comarca de Blumenau